Prova não superada... desta vez

Hoje de manhã fizeste-me um pedido. Disse-te que tinha que ir ao centro comercial. Pediste-me para fazer uma taradice no parque de estacionamento. "Escolhe um daqueles que pense que já não é possível ter uma coisinha boa como tu!" Já falámos sobre isto várias vezes. Hoje era o dia de agir. "Mas como é que eu faço isso?" "Fazes um sorriso maroto e esperas que te convidem para tomar um café."

Saí de casa com medo, mas disposta a dar o meu melhor, provar-te que sou capaz de pôr em prática as nossas fantasias e taradices.

Entrei no centro comercial e, em vez de olhar para as montras, olhava em volta. Casalinhos de namorados apaixonados, casais com as crianças pela mão, casais de meia idade... Todos alheios às pessoas com quem se cruzavam... Mas onde raio é que se meteram os homens...?

Primeira paragem, o supermercado. Corredor dos produtos de barbear. Um homem de estatura média, cabelo grisalho, parado em frente a uma montra de produtos qualquer. Embora eu seja daquelas pessoas que desvia o olhar quando alguém olha para mim, dei por mim a olhá-lo fixamente nos olhos e a fazer um sorriso... diferente. Aquele olhar e sorriso que faço quando me tiras fotografias e em que eu estou a pensar "fode-me". Ficou a olhar para mim. A expressão era de baralhação. Olhou para a esquerda e para a direita, talvez à procura de um homem da minha idade, que não encontrou. Voltou a olhar para mim, o meu sorriso ainda lá estava... E seguiu o seu caminho. Naquele momento, um misto de sacanice por ter baralhado o homem, alegria por ter conseguido dar o primeiro passo e desilusão por não se ter passado mais do que aquilo.

Saí do supermercado e encamilhei-me para a Fnac, conforme me recomedaste. A uns escassos metros de distância vinham 3 homens na minha direcção. Todos engravatados, um deles tinha a cabeça cheia de cabelos brancos. Bastante elegante e uns olhos azuis muito brilhantes. Voltei a fixar os olhos, voltei a sorrir. Qual não foi o meu espanto quando o homem me sorriu de volta!!! De repente o medo apoderou-se de mim, uma descarga de adrenalina percorreu-me o corpo todo. Acho que foi aí que falhei. Não sei se a minha expressão se alterou, mas foi aí que ele ficou com cara de sacana. Ou então era demasiado bem parecido, não devia ter problemas de auto-estima! Embora assustada, continuei a encará-lo até nos cruzarmos e cada um continuar na sua direcção. "Merda!"

Fnac. Três voltas. Saí do centro comercial chateada comigo, ainda não foi desta. Parei na bomba de gasolina. De regresso ao carro, depois de fazer o pagamento, um homem enchia o depósito na bomba ao lado. Não era velho, não tinha mais de 40 anos. Mais uma tentativa...

Sacudi os cabelos que o vento teimava em colar-me à cara, e enquanto passava a mão por eles, a cabeça de lado, sorri para ele com uns olhos provocadores. Surpresa no rosto. Não sorriu mas ficou a olhar, a mangueira da gasolina na mão. Abri a porta do carro, atirei a mala lá para dentro e quando me sentei já ele tinha colocado a mangueira no sítio. Enquanto dava a volta ao carro, olhava para mim. Continuei a sorrir, por de trás de uns cabelos rebeldes que me escondiam um pouco do rosto. E ele olhava, deviava a cara, voltava a olhar... Só já depois de eu ter posto o carro a trabalhar e de ele se encaminhar para a loja para pagar é que me sorriu de volta. E cada um seguiu o seu caminho. "Cobarde!"

Prova não superada. Mas é desta vez. Não vou desistir. Vais ensinar-me, vais dizer-me como se faz. Vais ajudar-me a atirgirmos os nossos objectivos. Porque hoje senti-me uma puta inexperiente e desajeitada. Amanhã quero sentir-me a melhor puta da cidade.